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BULLYING? Dúvidas dos Pais

BULLYING – DÚVIDAS DOS PAIS

O que é bullying? Como lidar se meu filho é o agressor? Como ajudar meu filho a deixar de ser vítima de agressões? Saiba a resposta para esses e outros questionamentos.
Uma palavra, até pouco desconhecida por muitos brasileiros, tornou-se o assunto do momento. O bullying passou a ter presença constante na mídia, mas muitos pais ainda têm muitas perguntas sobre o assunto. Por isso, o tema foi escolhido para o primeiro especial "Dúvidas dos pais". A psicóloga Juliane Callegaro Borsa, doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), respondeu às perguntas feitas pelos leitores na página do EDUCAR PARA CRESCER no Facebook.
Ela desenvolve uma pesquisa sobre o assunto na UFRGS, que quer conhecer a opinião dos pais de alunos do Ensino Fundamental sobre o bullying e sobre as políticas de prevenção e intervenção adotadas pelas escolas de seus filhos. Para isso, coleta informações por meio de questionários virtuais sigilosos.

O QUE É BULLYING? QUAIS SUAS CARACTERÍSTICAS?
Pergunta elaborada com base nas dúvidas de Ana Cristina Freitas e Beatriz Nascimento.

"Bullying é uma palavra inglesa (bully, que significa valentão, brigão) que não possui uma tradução adequada para o português. Alguns a traduzem como provocação, intimidação, assédio ou vitimização, mas esses termos reduzem um pouco a situação, pois não compreendem toda a complexidade do problema.
O bullying é um problema que ocorre entre crianças e adolescentes no Brasil e no mundo. Acontece com maior frequência na escola, na relação da criança com seus colegas; mas também, pode ocorrer em outros ambientes, como na vizinhança, em centros esportivos e em outros locais que sejam frequentados por crianças e adolescentes.
Trata-se de uma série de comportamentos agressivos repetitivos que acontecem em um contexto de desequilíbrio de poder entre o agressor e a vítima. Essas agressões podem ser físicas, verbais ou relacionais e têm o objetivo de prejudicar outra pessoa."
 
QUE ATITUDES PODEM SER CONSIDERADAS BULLYING E QUAIS NÃO PODEM SER ENCARADAS COMO TAL?
Pergunta elaborada com base na dúvida de Dri Castro.

"O limite entre o que é bullying e o que é uma brincadeira é muito tênue. O mais importante é reconhecer se o comportamento causa sofrimento para a vítima e se o agressor o pratica com a clara intenção de machucar, prejudicar ou causar sofrimento.
O bullying não é sinônimo nem de violência nem de agressão. O que se pode dizer é que toda situação de bullying é agressiva, mas nem toda a agressão pode ser caracterizada como bullying. Para ser bullying, a agressão tem que ter um caráter intencional, precisa acontecer repetidas vezes e o agressor deve possuir certo poder sobre a vítima, que se sente impotente frente à situação de vitimização e não sabe se defender.
É importante lembrar que o fato de uma única agressão não se caracterizar como bullying não significa que ela não seja grave. Uma agressão isolada ou distinta do bullying pode causar, também, sérios prejuízos físicos e psicológicos."

OS PAIS DEVEM CONVERSAR COM SEUS FILHOS SOBRE O ASSUNTO MESMO QUANDO ELES NÃO ESTÃO ENVOLVIDOS EM CASOS DE BULLYING? COMO DEVE SER FEITA ESSA APROXIMAÇÃO?
Pergunta elaborada com base na dúvida de Fernanda Souza.

"Todo diálogo entre pais e filhos é importante e ajuda na prevenção do problema, mesmo se a criança não estiver envolvida, diretamente, em situações de bullying. Até porque a criança poderá se deparar com as mais diversas situações de violência ao longo da sua vida escolar.
Discutir com a criança sobre o certo e o errado, sobre a importância da amizade, do respeito às diferenças e de tratar todas as pessoas com educação, certamente trará importantes benefícios. Nos tempos atuais, mais do que nunca, estas características vêm sendo extremamente valorizadas, seja nas escolas, seja no contexto adulto. Cada vez mais as empresas, por exemplo, vêm buscando profissionais mais humanizados, que saibam trabalhar em equipe, valorizar e respeitar a diversidade."
 
COMO IDENTIFICAR SE MEU FILHO ESTÁ SOFRENDO BULLYING – NO CASO DE ELE NÃO ME CONTAR?
Pergunta elaborada com base na dúvida de Renath Pantaleao.

"Não há critérios precisos sobre como identificar a ocorrência de bullying, mas alguns sinais são comuns nas crianças vítimas, como por exemplo:
– Dificuldade de aprendizagem e de concentração em sala de aula;
– Queda repentina no rendimento escolar;
– Resistência para ir à escola, falta de interesse nas atividades escolares, (sobretudo aquelas que envolvem maior interação, como passeios, gincanas e outras atividades extraclasse);
– Pesadelos, insônia ou medo de dormir sozinho;
– Choro frequente, queixas em relação à escola;
– Sentimento de exclusão perante os colegas;
– Relatos de estar sofrendo deboches ou humilhações;
– Pedir pra abandonar ou trocar de escola;
– Tornar-se agressivo, ansioso ou deprimido;
– Voltar pra casa com machucados, roupas e materiais danificados, entre outros.
É importante deixar claro que esses sinais não significam que a criança, necessariamente, esteja sofrendo bullying, mas é importante estar atento a eles."

COMO ENSINAR MEU FILHO A SE PROTEGER E SE DEFENDER, CASO RECEBA AGRESSÕES DOS COLEGAS?
Pergunta elaborada com base na dúvida de Rita Nikolofski.

"Em casos de vitimização, é importante orientar a criança a buscar ajuda de um adulto (professor ou dos pais), a não guardar segredo sobre a situação e a evitar contato com o agressor.
Entre 2008 e 2012, realizei um estudo sobre os comportamentos agressivos de crianças no contexto escolar. O estudo contou com mais de 700 crianças de Porto Alegre e região metropolitana. Verificou-se que os meninos tendem a serem mais agressivos que as meninas e a atitude de pedir ajuda ao professor em casos de vitimização foi mais comum em meninas do que em meninos. Os meninos tendem a revidar a agressão com mais frequência que as meninas, que tendem a reagir chorando e se isolando. Esses resultados estão relacionados a questões culturais sobre o comportamento esperado para meninos e meninas na nossa sociedade. Muitas vezes, meninos são rechaçados pelo próprio grupo se pedem a ajuda de um adulto."

REVIDAR É UMA OPÇÃO PARA SE PROTEGER DO BULLYING?
Pergunta elaborada com base na dúvida de Ruth Garcez Vilete.

"Nesses casos, provavelmente, revidar não é a resposta mais efetiva, se o objetivo é evitar novas agressões. Revidar as agressões com novas agressões aumenta o ciclo de violência no contexto em que as agressões ocorrem (por exemplo, no pátio da escola).
Além disso, é comum que a criança vítima possa se tornar vítima-agressora, ou seja, passar a agredir outros colegas. Por exemplo, é comum a criança sofrer bullying de uma criança mais velha ou mais forte e descontar sua frustração, agredindo crianças mais jovens ou mais frágeis física ou psicologicamente. Neste sentido, é importante a intervenção da escola na tentativa de cessar a cadeia de agressões, adotando uma política pedagógica que atinja todas as séries e envolva as diferentes áreas e os diferentes profissionais."

O QUE EU POSSO FALAR PARA O MEU FILHO QUE SOFRE BULLYING E COMO AJUDAR A MELHORAR SUA AUTOESTIMA?
Pergunta elaborada com base nas dúvidas de Janise Allegranci, Socorro Claudia Oliveira Campos, Lorena Machado, Geralda Pereira dos Reis e Daniele Leal.

"Criar e educar filhos não é uma tarefa fácil e não existe uma receita mágica sobre a melhor forma de fazê-lo. De todo modo, algumas estratégias podem ser efetivas para o desenvolvimento emocional saudável das crianças. Dentre elas, cito:
– Reforce as potencialidades e as características positivas da criança;
– Elogie se ela for merecedora e aponte os erros, quando necessário;
– Seja um exemplo para sua criança. De nada adianta punir a criança por comportamentos que são comumente adotados por outros membros da família. Lembre-se que os principais e primeiros modelos de referência da criança são os pais ou os cuidadores principais;
– Permita que a comunicação flua, sem repreensão ou julgamentos desmedidos;
– Ensine os valores de amizade, tolerância e respeito. Isso valerá não só para o presente, mas para toda a vida dos seus filhos;
– Explique à criança as regras básicas de comportamento com clareza e com linguagem apropriada à sua idade;
– O não pelo não fica sem sentido, mas um não bem explicado e justificado pode fazer toda a diferença;
– Incentive o seu filho a ter amizades, ensinando-o a diferenciar as relações saudáveis daquelas que o prejudicam;
– Supervisione o comportamento do seu filho, mas não sufoque nem seja intrusivo. É importante que seu filho sinta que não está só, mas também é importante que não se sinta sufocado;
– Procure passar mais tempo com seus filhos, desenvolva atividades juntos, cultive hábitos prazerosos (jogos, brincadeiras, conversas), ajude-os a descobrir e desenvolver seus talentos;
– Informe-se e informe seu filho. Converse sobre o tema do bullying, explique sobre suas consequências;
– Participe mais ativamente da escola do seu filho, pergunte como foi seu dia, sobre o que brincou, como foi a hora do recreio e como foi passar o dia com seus colegas;
– Se seu filho possui alguma característica física que o diferencie dos seus colegas, tente não supervalorizá-la. Converse com ele sobre a importância das diferenças e de que, em alguma medida, ninguém é igual a ninguém. Se ele souber aceitar a si próprio, será mais fácil ser aceito pelo grupo."

SE A CRIANÇA NÃO QUER VOLTAR PARA A ESCOLA, DEVO CONCORDAR OU PROPOR QUE ELA TENTE SE RECONCILIAR COM A OUTRA CRIANÇA?
Pergunta elaborada com base nas dúvidas de Bruna Cristiane D’Oxum Pandà.

"Mudar de escola pode resolver o problema em um primeiro momento, mas não necessariamente a longo prazo. Pode afastar a vítima do agressor ou o agressor da vítima, mas se a criança não adquirir recursos pra se defender poderá se tornar vítima na nova escola. Do mesmo modo, se a criança costuma agredir seus colegas, é provável que ela encontre novas vítimas potenciais na nova escola. Então, essa decisão de mudar de escola não deve ser a primeira atitude a ser tomada. Antes disso, é importante conversar com a criança sobre a real necessidade e motivação para mudar ou não de escola. É fundamental, também, buscar estratégias de enfrentamento e resolução do problema junto à escola do seu filho. É importante lembrar que trocar de escola afasta a criança vítima do seu agressor, mas também de seus amigos e professores com quem possui uma relação positiva.



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